eu viajante

Nasci a 5 de Junho de 1955. Signo de gémeos, com o sol sobre a minha cabeça e a lua a meus pés. Felizmente a data, hora e local do meu nascimento conjugaram-se para me dar um signo ascendente em Capricórnio, sem o qual toda a minha actividade de organizadora de viagens, eventos e outras ocorrências teria sido muito difícil de por em prática, se não impossível.

Viajei pela primeira vez para fora do país quando completei a 4ª classe. Os meus pais levaram-me a Espanha a comprar caramelos Solana e coca-cola. Devo confessar que poucas memórias me restam dessa viagem. Para além dos já referidos caramelos ficaram-me imagens bem marcadas de uma corrida de touros em Sevilha. Penso que foi a primeira e última corrida de touros a que assisti. O calor sevilhano de julho ou agosto, durante um passeio a pé pela calle Maria Luisa, a decoração kitch de um dos hotéis onde ficámos, com colchas de cetim em tons pastel e o encanto gastronómico que senti pelas tapas e que ainda hoje me define como petisqueira, são outras recordações que guardo desse tempo. Sei que visitámos monumentos e lugares históricos, que se eclipsaram completamente da minha mente, porque existem fotografias que o confirmam.

Curiosamente este foi também um traço que me definiu no início enquanto viajante. Só depois dos 50 comecei a ter interesse em conhecer os locais históricos, os museus, as igrejas. Durante muitos anos senti apenas uma enorme curiosidade em ver e conhecer as pessoas, o modo como vivem, a história que contam no presente.

A primeira grande aventura para além das fronteiras nacionais, teve lugar dez anos depois desta primeira visita a Espanha, em 1974, ano importante na história de Portugal. Terminado o meu curso médio de Turismo (ou quase, porque chumbei a alemão e nunca repeti a cadeira), os meus pais concordaram que seria boa altura para uma coisa que está agora muito na moda, mas que na altura ninguém praticava: um período sabático. Londres foi o local escolhido porque havia a facilidade logística de poder juntar-me a uma amiga e com ela partilhar o custo de um quarto. No inicio de Setembro desse ano, rumei à capital inglesa com algumas libras esterlinas no bolso que me permitiriam viver nas primeiras semanas. A intenção era inscrever-me numa escola de inglês e mais tarde no Saddler's Wells para continuar os meus estudos de dança clássica. Contudo, o rebuliço que foi a minha vida em Londres não se coadunou com tanta actividade académica e ficou tudo "no tinteiro". Devido às enormes dificuldades que existiam naquela época para transferir divisas para fora do país, vi-me obrigada a abraçar a carreira de barmaid em alguns pubs de Chelsea para poder pagar o aluguer do quarto, muito bem situado em Draycott Place, uma rua paralela a King's Road bem perto de Sloane Square. Foi um tempo louco, vivido a mil à hora, intensamente, talvez intensamente demais. Ao fim de quase quatro meses, nas vésperas do Natal, resolvi regressar. De um dia para o outro fiz as malas e voltei a Lisboa. Sem o diploma de inglês mas a falar fluentemente.

Só 14 anos depois, com a minha entrada para o Clube Aventura em 1988, comecei a tornar-me uma viajante e, simultaneamente, uma profissional na área das viagens "Aventura", ao lado do seu percursor em Portugal, o meu querido, José Megre. A par das primeiras provas de competição em todo-o-terreno em Portugal, o Clube Aventura lançou o conceito de "viagem Aventura", com a organização de grandes expedições em África para jipes. A primeira em que estive envolvida foi a 1ª Marconi Lisboa-Bissau, em janeiro de 1990. No seguimento das "Transaharianas" nos primeiros anos do clube Aventura, esta foi a primeira viagem com o apoio de patrocinadores e cobertura mediática, aberta à participação de pessoas fora do núcleo fundador do clube. Como braço direito do Zé Megre, coube-me a execução de muitos dos passos necessários a levar a cabo a iniciativa. Desde a obtenção dos vistos e dos carnets de passage en douane para toda a caravana, à compra dos víveres para alimentar a estrutura da organização durante a viagem, passando pelos contactos com os patrocinadores e participantes. Foi uma experiência fundamental e que me marcou tanto como a viagem propriamente dita.

Nos anos que se seguiram ajudei a organizar muitas viagens, que vieram a tornar-se autênticos ex-libris e que despoletaram a gradual proliferação da oferta deste tipo de viagem em Portugal. Mas, correndo o risco de parecer pouco modesta, as viagens do Aventura permaneceram sempre no topo. Porque não basta ter tudo muito organizadinho. É preciso ter carisma na liderança do grupo e capacidade para tomar decisões rápidas e acertadas para resolver os problemas que sempre surgem numa empreitada deste género.E nisso o Zé Megre era um mestre, e a sua equipa soube aprender com ele.

A lista das expedições é importante:
1990 - 1ª Marconi Lisboa-Bissau
1991 - 1ª Nissan Patrol Ténéré (Bissau - Lisboa)
1992 - 2ª Marconi Lisboa-Bissau
1993 - Expedição USA Coast to Coast
1994 - Expedição Cheers Oeste Americano
1995 - Expedição Terrano II Sul América (reconhecimento e viagem)
1996 - Expedição Terrano II Lisboa Goa
Expedição Microsoft / Accenture a Marrocos
1997 - Expedição Cheers ao Quénia

e diversas expedições a Marrocos não patrocinadas.

Nem sempre tive oportunidade de acompanhar as viagens, como foi o caso de 1991, 1993, 1995 e Lisboa-Goa, porque coincidiam com a preparação das provas desportivas que, naqueles anos, eram verdadeiros monumentos de popularidade, com algumas listas de inscritos na casa dos 500 ou 600 veículos participantes.

Foi esta bagagem na organização de viagens e outros grandes eventos que me proporcionou o convite para trabalhar a área das viagens de incentivo e os eventos institucionais numa grande multinacional para cujos clientes e parceiros organizei duas expedições a Marrocos e uma expedição ao oeste americano, sempre com o apoio do Zé Megre.

Entretanto, e a nível particular, realizei mais uma expedição ao Quénia e uma outra no México.

A partir de 2002, na sequência de um safari em que participei na Namíbia, resolvi estabelecer-me por conta própria. Associei-me a um operador turístico da Namíbia, a Calabash Safaris, e comecei a minha vida de free lancer. Naquela época, a Namíbia era um destino praticamente desconhecido em Portugal. Não esqueço as expressões de estranheza nas pessoas que abordei para as primeiras viagens. Mas o facto é que, embora lentamente, começaram a aderir. A primeira grande oportunidade de promoção deste destino veio pela mão da Toyota, em 2003, que me desafiou para criar uma expedição para os Toyota de cabine dupla locais, que seria um curso de iniciação à condução na areia para jornalistas, demonstrando as capacidades do veículo em condições de todo-o-terreno difíceis. Acompanhou-nos uma equipa de filmagem que produziu um filme transmitido na SIC e na RTPN. Nos anos que se seguiram foram vários os grupos a quem dei a conhecer o "País dos Contrastes" e estabeleci ligações com algumas agências de viagem importantes, que recorrem à minha experiência para incluírem a Namíbia no leque da sua oferta.
veja aqui o video

A partir de 2004 comecei a diversificar os destinos, mantendo-me fiel à África subsariana, incluindo nos itinerários da Namíbia extensões ao Botswana e à Zâmbia. Nesse ano, realizei também a primeira viagem de reconhecimento a Moçambique.

Em 2005, foi a vez da Hyundai me convidar para organizar uma viagem de lançamento para o seu SUV Tucson. Depois de quase um ano de preparação, a Tucson Coast to Coast arrancou de Walvis Bay, na Namíbia, em novembro, para chegar a Zongoene, em Moçambique em meados de dezembro desse ano. Foi uma viagem inesquecível para quantos tiveram o privilégio de nela participar: proprietários de Hyundai Tucson e jornalistas. Tudo foi planeado ao pormenor, desde os testes de condução antes da partida, a decoração e o transporte dos carros desde Portugal, os locais visitados e experiências proporcionadas aos participantes, o filme da viagem, a cobertura jornalística. Esta foi, em suma e nas palavras dos participantes, a viagem de uma vida, que ultrapassou largamente as expectativas do meu cliente. Muitas pessoas viram o filme que foi transmitido diversas vezes na SIC, SIC Notícias, RTP, RTPN, ouviram os relatos na TSF e na rádio Comercial emitidos durante a viagem, e leram as reportagens dos jornalistas em revistas e jornais.
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A última etapa, comentada por António Catarino aqui

Angola era um dos destinos mais apetecidos para uma expedição, mas as fracas infraestruturas disponíveis localmente sempre nos dissuadiram de explorar essa possibilidade. Até 2008, ano em que um grupo sul africano nos contactou para organizarmos uma viagem que revisitasse os locais das grandes batalhas travadas pelos seus conterrâneos em terras angolanas. Levando toda a estrutura organizativa da Namíbia (veículos, equipamento de campismo, comida, água e guias), e com o apoio de algumas autoridades militares angolanas que nos abriram as portas, por exemplo, a Cuito Cuanaval, desenhámos um percurso que cobriu grande parte do sul do país, regressando à Namíbia no final de três semanas de uma expedição no melhor estilo "puro e duro". Inesquecível!

O ritmo das viagens sofreu uma forte quebra desde 2009, estando este tipo de viagens para grupos pequenos e feitas à medida reduzido a um mínimo histórico. No entanto, acredito que não há mal que sempre dure e certamente continuarei a fazer o que sei fazer melhor: Planear, produzir e enquadrar viagens por medida.

1 comentário:

Victor Pinto S. disse...

Podia colocar os filmes dessas viagens. Muito interessantes as suas viagens