terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Esta Vida são Dois Dias...

... e o Carnaval são três, diz o povo! Que nome dar a um Carnaval em que em três dias se perdem dois amigos? Despedi-me hoje do Zé Mendonça, que partiu de repente e sem aviso para a sua viagem final. Não sei explicar e não me é fácil aceitar. Subitamente, no espaço de um fim de semana, sinto que levei uma estalada que me obriga a re-equacionar tudo, mas os raciocínios perdem-se nos vazios da alma. Afinal, porquê? para quê? são perguntas sem resposta objectiva porque tudo é relativo. Tudo pode esfumar-se num segundo, tudo mesmo! Só o que fica enquanto cá estivermos é a saudade dos que já partiram e a certeza de que também havemos de ir. Tudo o resto são momentos mais ou menos longos, mais ou menos felizes, produto de oportunidades mais ou menos aproveitadas. Conheci o Zé Mendonça em 1988, quando entrei no mundo do TT nacional e desde sempre estabelecemos uma empatia mútua muito grande. O Zé foi daquelas poucas pessoas que desde logo me "tirou a fotografia" com grande exactidão. Talvez porque, por sermos ambos do signo gémeos e nascidos com apenas dois dias de diferença, tivéssemos muitos traços em comum. Não estavamos juntos com frequência mas, quando o via, era como se tivessemos estado a tomar café na véspera. De uma inteligência viva e com conhecimentos quase enciclopédicos, imaginação bem fértil e grande sentido de humor, o Zé foi uma pessoa muito especial, um bom amigo e um grande companheiro de viagem. Quando penso que, ainda há dois dias, ríamos ao recordar as histórias que vivemos no safari à Namibia em 2002, e alinhavávamos projectos para em breve ir visitar a sua Quinta dos Cozinheiros, sobe-me nas costas um arrepio gelado. Guardo na memória o olhar maroto do Mendonça, ao repetir os slogans que inventou para definir as viagens que organizo. Será uma das recordações-tesouro com que tentarei sacudir as saudades. Tenho pena de não ter estado mais com o meu amigo, de não o ter conhecido melhor. ... porque a passagem por esta vida é, de facto, sempre curta, devería ter pressa de viver devagar as pessoas boas que nela encontro. Como o Zé Mendonça.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Até já, Zé Megre

Foi embora para uma viagem sem regresso, o Zé Megre, meu amigo querido, meu mentor, o homem que, entre tantas outras coisas, me ensinou a viajar... Fica um vazio enorme, dorido, sem sentido, mas fica também o orgulho de ter tido o privilégio de o conhecer tão profundamente, de ter partilhado com ele tantos, tantos momentos, tantas ansiedades, tantas alegrias e algumas tristezas durante os últimos 20 anos. Fica-me a alegria de ter podido aprender com ele, de ter podido estar ao seu lado, de ter podido viajar muitos milhares de quilómetros conduzida por ele. E a recordação, que guardarei para sempre no coração, das suas histórias, do seu humor ímpar, da curiosidade que tirava qualquer um do sério, da insatisfacção permanente, das brincadeiras e de tantas gargalhadas que demos juntos, das palavras inventadas e nomes deturpados, mas também da tenacidade com que perseguia os objectivos que queria atingir, do seu imenso carisma, da capacidade de trabalho dificil de acompanhar, da coragem com que sempre pôs a fasquia mais alta, sempre mais alta. O Zé foi embora mas não desapareceu porque há-de vir-me à ideia sempre que "descrever" uma curva, amassar um maço de tabaco, saborear uma musse de chocolate ou olhar para um chapéu de feltro preto. E estará presente nas viagens que faço porque, enquanto viajante, eu sou também um produto do Zé Megre, que me ensinou o que sei e me aconselhou sempre que precisei. O vazio que deixou em mim, não há quem o preencha. Esteja lá onde estiver, quem sabe talvez a fazer o reconhecimento para a primeira "TransCelestial", acredito que o Zé sabe a falta sinto. Fica em paz, Zé Megre e (como gostavas de dizer) até já!